Os Diálogos de Waltão

2004-11-04

Aspirante a Mestre Pokémon

Este treinamento ainda me mata -- de susto e de desgosto; só não de rir; talvez de fome. Hoje descobri quão complicado pode ser solicitar trancamento e/ou prorrogação.

E, ainda por cima, vêm-nos (aos pós-graduandos) com novas regras -- co'a partida em andamento, diga-se. Não bastasse terem reduzido em um ano o prazo para conclusão, agora teremos de efetuar o Exame de Qualificação com seis meses de antecedência -- antecedência a quê, exatamente, não se nos explica. No meu caso, como restam menos de seis meses para o término do prazo do Mestrado, terei de cumprir a Qualificação até 31 de dezembro. Juntem-se a isso as desventuras vivenciadas a cada pedido de bolsa e teremos algo maior do que a soma das partes.

Cheguei, em incontáveis ocasiões, a considerar a desistência como saída única e inequívoca -- um suicídio acadêmico. Agora, neste momento em que aflora minha faceta irascível, chamo a mim a Razão, para que me traga de volta à fleuma e me permita refletir sobre os acontecimentos recentes.

Talvez a ira seja a cura panacéica que procuram os descontentes, os desmotivados e os desejosos por vingança. Entretanto, contra aceitar tal resolução posto-me desde já veemente. Não me quero deixar vencer pelo torpor inebriante, que, tomando-me de assalto, ações, atitudes e decisões guia.

Não quero amaldiçoar um dia a menos no prazo que me oprime; quero poder acordar e ouvir nos pássaros cantantes as boas-vindas a mais um dia. Não quero ter de escrever para cumprir metas de produtividade; quero poder verdades descobertas e mentiras pueris expressar como quem conta fábulas a uma platéia atenta e desejosa por novas -- ainda que sempre antigas -- historietas. Não quero ter de dormir armado e entrincheirado contra pesadelos certos a afligir; quero poder em sonhos reviver o que em vigília me concede razões nesta noite para sonhar e na seguinte manhã para despertar. Para ouvir trinados. Para contar aventuras. Para ansiar por novos-antigos devaneios.

Mas faço esta (e não aquela) escolha não porque aspiro, solo, a algo melhor. O mérito cabe a quem nos inspira a almejar sempre mais, trazendo à tona o que de melhor temos, mostrando-nos quão melhores podemos ser. Pois mesmo em um dia fustigado por tormentas atrozes, pode haver um átimo de contentamento quase a passar despercebido. Não quero ter de guardar mágoas e rancores; quero poder em meu íntimo manter o que de melhor tenha-me acontecido.

"A beleza cria, desperta e favorece gáudias horas, instantes jamais lamentados, mormente não olvidando poder quiçá ruir, subitamente, toda uma vida." (Da aparência e da beleza, 2004-11-03)

(da série Mens Sana)

2004-11-03

Da aparência e da beleza

Quando me perguntam se considero tal ou qual pessoa bonita, duas respostas possíveis: no que tange à aparência, costumo não muito fugir ao que ora se estabelece como 'bonito' -- tenho cá meus gostos e minhas predileções, mas nada que do comum difira; no que concerne à beleza, diverso talvez seja o modo de pensar.

·a aparência seria o que com olhos vemos, com ouvidos escutamos, com mãos tocamos -- tudo quanto se possa registrar ou perceber por meios outros que não os da empatia e da intelecção;
·a beleza é o que admiramos, o que vislumbramos além do externo -- aquilo que sem palavras apreendemos.

·a aparência seria o doce que com formas e cores, odores e sabores, nos convida, nos atrai, nos seduz -- e, efêmero, vai-se;
·a beleza seria o que sabemos nos nutrir, o que sobrevive àqueles breves instantes de degustação -- e subsiste.

·a aparência, nós a observamos dia após dia, tornando em comum o incomum;
·a beleza, cada um de nós em seu íntimo saberá quando a tiver encontrado.

·a aparência gera sensações, valendo-se de opiniões e adulações;
·a beleza traz à tona o que de melhor temos, mostrando-nos quão melhores podemos ser.

·a aparência apela para o que há de primitivo em nós, incitando-nos a desejar sempre mais;
·a beleza perscruta nossa essência, inspirando-nos a almejar sempre mais.

·a aparência agrada, apraz, acalma ânimos;
·a beleza cria, desperta e favorece gáudias horas, instantes jamais lamentados, mormente não olvidando poder quiçá ruir, subitamente, toda uma vida.

Na efemeridade de cada existência, a elaborada aparência na fugacidade do tempo perece, enquanto a beleza, simples, permanece. Findo o dia presente, teremos em conta inumeráveis aparências de que nos lembrarmos; a seu próprio passo, afortunado quem, ao fim da vida, não puder contar em ambas as mãos as pessoas de real beleza.

A aparência pode carecer de um cerne que a verdadeiramente sustente, mas suplanta quaisquer figuras a beleza verdadeira.

···---···

Nem em todas as quimeras jamais imaginadas, nem mesmo em todos os devaneios jamais sonhados, nem sequer na mais sublime arte jamais criada, forma alguma elaborou-se que moldasse amálgama de aparência e beleza. Ainda assim, ela existe.

Ainda que imaginar nada me custe, a sonhar prefiro a realidade que no cotidiano enfrento, pois criação alguma poderá jamais se comparar ao sorriso que me cativa, à voz que me encanta, à existência que me anima. Que exponham escultores as mais áureas formas. Que escrevam poetas os mais inspirados versos. Que cultive a Natureza as mais vicejantes rosas. Nada se lhe compara.


(das séries Mens Sana e Muito Além do Jardim)

Editado em 2004-11-07:
·Parágrafo "A aparência pode carecer (...)" deslocado da segunda para a antepenúltima posição.

Editado em 2004-11-04:
·Em "·a beleza cria, desperta e favorece (...)", palavra 'mesmo' substituída por 'mormente'.

Receita para um desastre ao chão

Ingredientes:
·500ml de suco de laranja;
·um copázio mal-posicionado;
·um cotovelo desatento.

Modo de preparo:
Esbarrar de leve e deixar a gravidade agir por uma fração de segundo.

Dois breves silogismos

▷ uma expectativa baseia-se em impressões
▷ impressões são falseáveis
▶ ela deve manter-se inerte

▷ uma vontade baseia-se em desejos
▷ desejos são enviesados
▶ ela deve manter-se sob jugo

(da série Mens Sana)

2004-11-01

Um padawan no quintal de casa

Ontem, noite última octobriana, data estadunidense de celebração herética, algumas crianças, lideradas por uma adulta, aportaram à soleira de minha residência. Mas conto essa história outra hora.

Ontem consegui capturar uma imagem de meu desktop -- Ronoc, a tecla PrintScreen estava mesmo fora de lugar -- e finalmente tirá-la do programa que estava usando -- ele não exporta para formatos de imagem (só para vídeo). Bom, o resultado vocês podem conferir logo abaixo...

...

Carambolas! Que compliqueira colocar imagens no blog!

Bom, mas o resultado vocês podem ver no meu álbum do orkut, em "Mr. Junko e seus dois sabres de luz".

Agora, o que realmente estava a me fazer queimar as pestanas era um tal de rotoscoping. Para quem conhece Star Wars (antigamente conhecido como Guerra nas Estrelas -- não confundir com Jornada nas Estrelas!), rotoscoping consiste na técnica que permite criar na tela os sabres de luz -- "Uma arma elegante, para tempos mais civilizados" (Obi-Wan Kenobi).

Digladiava-se Walter co'a ferramenta chamada After Effects, da Adobe. Os tutoriais na web encontrados ensinaram-lhe como criar as lâminas de luz -- como o Mr. Junko acima pode confirmar --, mas não como animá-las, istoé, como dar-lhes vida num filme. Pois bem, eis que hoje, do meio para o final da tarde, logra êxito Walter em sua empreitada. O resultado vocês podem conferir logo ab... Hmm...

Bem, retomando... Quem quiser assistir aos 5s do vídeo-demo pode deixar um comentário (com email) e Walter enviará -- totalmente grátis! -- o arquivo .MOV de 1MB. Mas não é só! Comentando agora, você também levará -- totalmente grátis! -- um arquivo .JPG de Mr. Junko e seus dois sabres de luz. UAU! Não é demais? :D


Em tempo, o 'padawan' do título refere-se ao termo utilizado para designar os aprendizes de Jedi. Então, despeço-me agora e volto já a Dagobah, para completar meu treinamento.

Que a Força esteja convosco!


P.S.: Opa! Descobri como exportar imagens no AfterEffects :)