2005-09-20

Ser diferente (ou Diferindo da norma)

Lendo o post de 07/08/2005 do blog da Rinoa YK, um trecho me chamou a atenção:

"Até q fui surpreendida por saber q tem gente falando mau de mim por aí, (...) por causa das minhas fotos e por eu ter deixado no meu profile do orkut q eu sou bi."

Deixei um comentário falando que um vegan, guardadas as devidas proporções, também passa por situações semelhantes; a reação de algumas pessoas pode não ser tão intensa, mas a hostilidade existe, em um padrão não muito diferente.

Pouco tempo depois, algumas coisas voltaram-me à mente.

Na época em que estudei Ergonomia (o estudo da adequação do ambiente de trabalho, de objetos etc. à biometria humana), saltou-me ainda mais aos olhos que pessoas que se encontram de algum modo afastadas da norma (o conceito estatístico; faixa de maior concentração de dado fenômeno) deparam-se com dificuldades que ou as outras pessoas não percebem ou criam/mantêm-nas (as dificuldades) deliberadamente. Para citar apenas um exemplo, canhotos (estimados em 10% da população) vêem-se forçados a se adaptar a objetos feitos para a maioria destra, como: tesoura; relógio de pulso; taco de golfe; carteira escolar; teclado alfa-numérico; a seta do mouse, no monitor.

Tenho por hábito alternar o manuseio do mouse entre a mão direita e (como neste momento) a esquerda; devo dizer que usar a mão esquerda para controlar uma seta destra é, no mínimo, estranho/esquisito. Duas outras coisas que faço -- desta vez mais co'a mãos esquerda do que co'a outra -- são usar faca (tanto a de cozinha quanto o talher) e a escova de dentes. Mas não me pretendo canhoto.

Para tomar carona em outro tema digno de discussão, tenho reparado que negros têm-se representado mais e mais em seriados (ex.: The Fresh Prince of Bel-Air/Um maluco no pedaço; Kenan & Kel), desenhos animados (ex.: Stactic Shock/Super Shock) e novelas. A propósito, a presença de núcleos negros em novelas nacionais não é exatamente recente; chama-me atenção não ter havido, ainda, um núcleo oriental -- mas isso já são outros quinhentos (meu amigo Ricardo Osiro que o diga). Retomando o lado esquerdo, qual seria a representação de canhotos na mídia? Só me ocorre Link, protagonista dos jogos "The Legend of Zelda", de Shigeru Miyamoto (da Nintendo; criador de Mario e Donkey Kong). Hmm... Doug (do desenho animado homônimo) também é canhoto.

Há uma ou duas semanas, assisti a um episódio d'Os Simpsons em que Springfield passa a celebrar casamentos gays. Pessoalmente, prefiro o termo 'união civil', por entender que 'casal' (e derivados) refere-se a dois indivíduos de sexos diferentes (ex.: Ela deu à luz um casal de gêmeos.), mas isso pode ser só meu preciosismo semântico. Curiosamente, a proposta foi feita pela Lisa, conhecida por ser vegetariana -- há, inclusive, um episódio em que ela se encontra com Paul e Linda McCartney -- e membro da Mensa -- ela se torna membro naquele episódio que tem Stephen Hawking como convidado especial.

A Mensa é uma organização civil surgida na década de 1940, na Inglaterra -- mesmo período e país de surgimento do movimento Vegan --, que tem como proposta inicial congregar pessoas que tenham percentil 98 (estar entre os 2% com score mais alto) em algum teste de inteligência. Em uma matéria de 2000, a Revista da Folha entrevistou alguns membros, perguntando sobre atividades cotidianas, facilidades e dificuldades apresentadas por ter "QI alto" (o que quer que isso signifique), habilidades, curiosidades, como fora a infância e, estereótipos dos estereótipos, se estava namorando. Para o repórter (e para o editor), ser inteligente parece ser sinônimo de inépcia sócio-afetiva -- não me lembro de essa pergunta ser feita a qualquer outro tipo de entrevistado.

Quanto a ser vegan, se não comer carne já seria o bastante para suscitar estranhamentos, imagine um tipo de vegetariano que não consome leite (e derivados) nem ovos. Agora, imagine esse vegetariano não comprando nem usando vestes de couro ou seda. Por fim, estenda essas "restrições" a qualquer coisa que contenha produtos de origem animal e você terá alguém freqüentemente alvo de perguntas e críticas as mais variadas.

Posso não ser alvo de "gente falando mau de mim por aí", mas "faço uma leve idéia de como é isso".

5 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Uau! Voltou com um super texto, my friend! Te visitarei por aqui sempre...
Bjão
Ana

2:55 PM  
Anonymous Anônimo disse...

sei que vc esperava um comentário mais legal... tipo... comentando do texto e tal... afinal, sei como eh... jah tive blog tb! hehe! mas só vim deixar um oi mesmo pq to com pressa!
=*

3:00 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Caro Waltão,

Entendo o que passas... Nao sou vegan, sou vegetariana, mas desde os meus 11 anos sinto que causo estranheza nas pessoas (começando pela a minha própria família). Mas o que importa o que dizem? Não sei se algo te irritou/ou irrita, mas quero te passar uma expressão mágica para tais dituações de irritação: "dane-se". Não precisa falar, ore isso! Ou melhor, cante... Traduza para outras línguas e inaugure uma belíssima canção comigo.
Beijos
Te adoro
Anahid

12:14 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Acho q essa coisa de ser diferente... a gente acaba sendo alvo de preconceito, às vezes pela pessoa não te conhecer e te analisar da forma errada...

Sabe que muitas vezes eu acabei até me reprimindo (tentando não ser eu mesma) por causa dessas coisas... por medo de sofrer preconceito com as coisas q eu penso, sabe pessoas julgando...

Mas estamos sucetíveis a isso e mesmo tentando não me importar, eu acabo ficando com muita raiva quando eu sofro algum tipo de preconceito... seja pelo o q for.. é uma situação extremamente chata... bom... o q acabou me tornando uma pessoa bem anti-social ^^" eu só digo pras pessoas q falam mal dos outros sem conhecer, pessoas preconceituosas q não façam aos outros o q não gostariam q fizessem a vcs...

hauhau bom viver em sociedade é conviver né... XD a gente temq enfrentar as situações...

^^ beijinhus RinoaYK

5:49 AM  
Blogger Sérgio disse...

Walter! Voltaste finalmente; perdão eu nem li o texto porque já são horas de cama, mas o lerei certamente amanhã-pela-manhã... mas fico felicíssimo do teu retorno à blogosfera (que nome, hem!)

Abraço.

8:51 PM  

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